Quando ele se mostra inconstante, trêmulo e aquecido é porque deixei as notificações, a instabilidade dos momentos que querem viver como moscas de banana acontecendo ao mesmo e em pouco tempo e os prazos de outras vidas tomarem o protagonismo de certa paixão pela produção textual.
Esse sequestro me incomoda, me tira o que resta de propósito depois de tantas personas encenadas. Rapidamente sobre meu propósito: já o havia encontrado antes mesmo de início de vida adulta, o Texto. Fui com o cinzel da experiência debastando até chegar em algo próximo do definitivo ao afirmar que… “Sou um radar que quer ser auto-falante, captando e amplificando o que capta em igual medida”. Ninguém disse que eu explicaria de forma simples, muito menos eu.
Ainda falarei sobre o que ele é/será/nasceu na minha cabeça enquanto em algum café da manhã ELA perguntou: “Ei, você está aqui? Parece desligado sempre nessa hora…” Não, você tem razão, estou em outro lugar. Mas voltei. Bom dia, o café está delicioso. Mas era porque estava pensando em como começar a retirar todos os exoesqueletos da vida moderna – da maturidade que se faz presente na dor do joelho quando se levanta rápido da cadeira após reuniões – e correr mais uma vez livre por alguma propriedade na Serra da Mantiqueira, com Grimórios Alquímicos na mão gritando: “Achei!”. Minha persona é de um Melquíades de Cem Anos de Solidão.
A-ham…volto agora também ao nosso assunto: reconhecer pelo estômago quando estou no ritmo certo. Para ajudar àqueles que são mais visuais e confortam-se em boiar em conserva de sua própria desatenção e de vídeos rápidos, recorro a uma metáfora dessa natureza. Esse momento em que estou no melhor de minha relação com o mundo é algo como a Golden Hour que tanto perseguem os fotógrafos.
Aquela fatia do tempo, que assume contornos mágicos entre a tarde e a noite, na forma de um Oroboros cromático onde o final (tarde) e o início (noite) a despeito de seus ocasos e potencial são sutis, dourados e conectados.
Vivo em busca desse momento limítrofe para, uma vez sossegado, produzir apenas como artesão das palavras que sejam minhas e não de algum papagio estocástico. É uma busca inglória pois, pela necessidade de me defender nas evoluções profissionais que sempre me exigem estar à frente de algo novo, são justamente estes repetidores de padrões estatísticos de texto que pesquiso e persigo no momento. Acho prudente me defender: não sou vingativo, mas iniciar um projeto que nasce da forma mais analógica possível, tem um quê de ajuste de contas. Aqui, mando eu.
Respiro fundo e olho por cima dos óculos de leitura: não se trata de eliminar a facilidade das atuais ferramentas de produção de conteúdo. Gosto delas, estou, por exemplo, pilotando um charmoso Scrivener para iniciar essa série. “O que você quer de presente do Dia dos Pais?”, ELA pergunta por ELES. Uma licença do Scrivener, uma plataforma para produção textual focada e que te desconecta de ferramentas online intrusivas. E revisito a sensação de estar acostumado com aquele olhar. “De onde ele tira essas coisas?”
Nota mental: anoto sobre preparar um texto sobre os bastidores do projeto pois vocês curtem.
Repito: não é sobre eliminação mas, antes, limitar essas facilidades a um espaço de ocorrência que não vai nublar minha necessidade por pensamento novo, dos porquês no lugar dos comos. Ou que não vai me atar a amarras a partir de plataformas que se impõe como ditadoras de formatos e atribuindo a eles certo mando de campo no universo da fabricação de narrativas: poste todos os dias, comece pelo Reels, vá para feed e depois para o stories. Ah, vá você para o raio que o parta. Em outras palvras: um ajuste de protagonismo.
Quando faço isso, asssumo que o que está no centro da sala é a capacidade de, ainda que morando na tríplice fronteira entre tencologia, comunicação e cultura; captar as narrativas do meu tempo, triturá-las com base nas receitas desse Grimório Alquímico, beber, ter visões. Como disse, um Radar que se manifesta como Auto-falante.
Introduzo lentamente a cabeça deste pensamento nas águas correntes de um rio imaginário – não o mesmo que Melquíades é encontrado pois a história por aqui está apenas começando – , e batizo esse jeito de estar no mundo que será a tônica do meu 2025 em minha plataforma proprietária.
Sei que não me é possível performar assim durante todo o tempo, por isso Momento. Sei, também, que tem uma certa conexão geracional, sendo eu daquele extrato temporal que viveu um mundo desconectado e mais presente, pois então, Analógico. E sei, sobremaneira, que no lugar do TODO ou do TUDO, contento-me com o que dá para fazer pois sou só um (de oito braços, um cargo corporativo, outro empreendedor, outro ainda autoral), e, por isso, liberado no conforto do Possível.
Brinco com minhas habilidades de advinho e vislumbro que, por este momento, você entendeu o título deste artigo. O primeiro texto de maio de 2025, neste espaço proprietário deu conta de explicar para você por que persigo o Momento Analógico Possível. Este, foi o primeiro deles.
Lembro de avisar que nos próximos que virão, daremos conta de determinada voz, dos temas que ela carregará, das escolhas estéticas e do que vem por aí durante o ano.
Até lá, paz.