Acredito ser pertinente explicar no artigo desta semana, que o Maio de Descobertas é constituído por uma série de textos introdutórios que dão sustentação à nova fase do projeto mauroamaral.com.
Cabe lembrar também que por aqui, neste delicioso ambiente anacrônico chamado site pessoal, já nos resumimos a um podcast, à registrar a minha jornada para retornar à Academia, a frutração de ver tanto esforço desaguar em uma Pandemia, perseverar, produzir e seguir em frente.
Mas, em 2025, nos primeiros sinais de certa maturidade – esta por sua vez que parece ter adiantado em sua necessidade e imposições – me confronto com um momento sui generis: enfrentar o crescimento de toda sorte de técnicas estatísticas que tomam o lugar de fazeres criativos. O mercado convencionou chamar de “I.As generativas”.
Na gênese do projeto por aqui rascunhava já certa necessidade de analisar a intermediação (forçada) do contato entre produtores de conteúdo e suas audiências feita por algoritmos. Mais do que isso: do porquê ser dada como certa esta intermediação. Muito já se publicou, conceitos foram tecidos e tramados em artigos, ora acadêmicos, ora jornalísticos sobre esse imperativo.
Mas eis que ali por 2023, quando os LLMs começam a disputar a posição de protagonistas do fazer criativo (e claro tendo eu embarcado em testes como você poderá ler aqui neste, neste e neste outro experimento), ficou claro para mim que outra camada se acrescentava a esta forma de estar no mundo. Fazia sentido, então, acrescentar certos questionamentos e regular o foco da lupa (ou telescópio, nunca sei) sobre a questão. Mas, este artigo não é exatamente sobre isso.
Por isso, na temporada 2025 do projeto mauroamaral.com escolho encarar a tarefa de debater a insurgência e possível dominância da criação estatística, a partir de um reencontro com aquilo que tenho de mais íntimo: a artesania do texto. A carpintaria de palavras. A restauração de conceitos.
O fato é que por agora, me reconecto porque liberto da pressão de que isso aqui ou outras instâncias que criação mais íntima precisem suceder comercialmente. Ganho meus tostões de outras formas. Por isso, e só por isso, posso fazer o utilitarismo esperar na recepção, lendo revistas antigas. Vou ver se consigo um encaixe para o senhor mais tarde, senhor.
Penso ser importante ressaltar que ao me referenciar a este utilitarismo extremo, direciono a crítica a certa dependência de formatos que novos produtores de conteúdo, de histórias, de narrativas, se submetem. O próprio conceito de submissão já abordei em artigo quando falava sobre como o Podcast foi se curvando aos desmandos de certa imposição das plataformas, mas aqui tento abordagem mais ampla: noto que quem começa hoje a produzir conteúdo parte de uma empobrecida maneira de ver seu talento ganhar força algo que papas de mercado convencionaram chamar de “jogo das plataformas”.
E, assim, quando repetem a exaustão regras como “tenha um gancho, traga proposta de valor, demonstre prova social e fecha com gancho de conversão”, são priosioneiros do mundo plataformizado, mimetizando liberdade criativa. Queridos, vocês não são livres. São repetidores. São, vocês mesmos, seus próprios papagaios estocáticos (sobre os quais falei aqui).
É neste contexto que os artigos temáticos nascem como necessidade de minha expressão: se é verdade que existe a prisão platafórmica, é igualmente verdadeiro que a artesania do texto é libertadora. Diria até mesmo que é uma das únicas resistências possíveis hoje. É uma Alquimia de vontades, é temperar com seu tempo íntimo sua interpretação das coisas que o cercam. É pessoal, inalienável e, por isso mesmo, necessário.
Para que aconteça, pelo menos na minha forma de produzir, precisa se conectar com o Momento Analógico Possível. Como disse no artigo inaugural da produção de Maio:
Sei que não me é possível performar assim durante todo o tempo, por isso Momento. Sei, também, que tem uma certa conexão geracional, sendo eu daquele extrato temporal que viveu um mundo desconectado e mais presente, pois então, Analógico. E sei, sobremaneira, que no lugar do TODO ou do TUDO, contento-me com o que dá para fazer pois sou só um (de oito braços, um cargo corporativo, outro empreendedor, outro ainda autoral), e, por isso, liberado no conforto do Possível.
Ao me conectar com um ritmo de produção próprio, não amarrado aos ditames do que “você tem que fazer para treinar o algoritmo” sou, enfim, livre. Não que estivera preso. Não que não tenha pago o preço por não ter seguido das regras. Sei disso tudo assim como sei que por aqui, só vale o que eu quiser fazer. E farei caso tenha 1 leitor, ou 5 mil leitores.
Penso que este pode ser o momento em que você pensa: mas entendo que você aqui tem um formato também. E estará certo. Sim, temos algumas premissas. A primeira delas, foi o tema de nosso segundo texto, quando expliquei o nascimento da VOZ 2018. Ela seguirá, em alguns textos mais presentes e em outros menos, a guiar o jeito particular de ver o mundo e habitar a tríplice fronteira entre Tecnologia, Comunicação e Cultura.
Mas, existem outras caracteríticas do formato narrativo que estou construindo. Atributos que fazem destes artigos versões textuais de restaurações e customizações steampunks delicadas que um dia quero me dedicar a fazer.
Sobre elas, falarei no próximo artigo. Até lá, paz!