Um susto me trouxe até aqui

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Aos seis anos ouvi: “Você quer estudar música?” A pergunta me surpreendeu não pelo inusitado de um novo curso, mal começara eu a ler, mas pelo semblante leve e feliz, raro no meu Pai.

Iluminado por tanta felicidade, respondi sem nem ao menos saber do que se tratava aquilo tudo e só depois vim a descobrir que não seria ele a dar aulas (meu Pai foi professor de música por aproximadamente 25 anos), que não seria ali em casa, sempre tão cheia de instrumentos e músicos em final de noite ou datas festivas, e que não seria logo que eu tocaria todas as três músicas que conhecia de cabeça.

Mas reparem bem no meu ponto: não foi uma decisão racional, ou emocional que seja, o meu “sim”. Foi um susto em função de um semblante diferente.

Sim
Eu disse sim. Mas poderia ter dito não. E as aulas não começariam. Em não começando, não pularia três anos nos primeiros meses, e não entenderia que a disciplina e algum talento, nos levam longe, para junto de pessoas muito maiores que, de perto, soam do mesmo tamanho. E eu não estudaria seis, oito horas por dia e não passaria para a Escola Nacional de Música. E, com isso, não aprenderia a andar sozinho pela cidade com 15 anos. E não teria grupos de música barroca.

E, muito provavelmente, não apelaria para a diferenciação como forma de sobrevivência. Entenda: eu não teria frequentado os ambientes que frequentei e estaria no lero-lero de sempre daquele subúrbio distante nos anos 80 do século XX.

E, não aceitando, não precisaria ter largado o clássico e ido para o popular, fundando várias bandas de garagem. E não estando mais livre do mundo clássico, não teria seguido para outra formação universitária rumo às agências de propaganda no final dos anos 90, ainda no século XX.

A música também aproximou um amigo de faculdade que depois vim a saber era filho de dono de agência, que me chamou para trabalhar e, que, tempos depois contratou para assistente de mídia a mulher com quem ia me casar, herdar um filho e ter mais dois.

Acompanhe: se eu tivesse insistido em não aceitar, ou não tivesse me assustando com o semblante feliz do meu Pai, eu não teria largado o fazer publicitário, dado o desenrolar dos acontecimentos, e caído de cabeça na internet, em 2000.

E, sem ela, grande hub, de tudo o que havia estudado até aquele momento, não existiriam os primeiros sites, os primeiros textos para eles, os primeiros wireframes, e blogs, e clientes e minha recente empreitada profissional. E nem esta reflexão que você lê em meu site pessoal.

Comecei a refletir sobre isso ao assistir o episódio 19 da segunda temporada de Fringe, que recomendo. Mas, penso, dadas as teorias da física quântica existiram-existem-existirão outras infinitas possibildades. Um não-susto que me deixou lá, numa outra vida e em outro universo. Em milhares deles, diga-se de passagem, pois depois dessa decisão outras se seguiram.Mas delas eu não conheço. E nem elas sabem sobre mim.

Um susto me trouxe até aqui. Até onde ele vai me levar eu não sei.

Sobre o autor

Mauro Amaral

Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos.

Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento para aplicá-las no dia a dia dos meus clientes.

Construo, mantenho e estimulo equipes criativas há 10 anos; com especial predileção por identificar novos talentos e trabalhar potenciais multidisciplinares.

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