Sempre me chamou atenção a forma como as pessoas são reféns do “como isso se dá” na indústria criativa. Não porque saber operar algumas técnicas seja ruim para os negócios. O incômodo tem a ver com a questão da dependência mental que este comportamento gera.
Reféns do como desenvolvem uma fome constante e crescente de modismos e superficialidades, repetindo o que viram alguém que já repetira determinada maneira de ver o mundo, de interpretar o seu momento, de se comunicar com seus pares e, na voz de marcas, com seus públicos.
Reféns do como, neste sentido, também bloqueiam a análise crítica dos movimentos que estão inseridos sejam eles econômicos, culturais ou tecnológicos. Consideram como dogmas aquilo que, em alguns casos é somente um movimento especulativo de forças econômicas, por exemplo.
E, mais alarmante, reféns do como lêem de forma equivocada suas próprias realidades. Ao importarem maneiras de pensar, e não submetê-las à análise crítica; impedem aquilo que temos de melhor no Brasil, já batizado em outros momentos de Antropofagia. Perdemos o nosso instinto visceral para o antropofagismo.
Cheguei neste território de atuação como uma resposta a isso. Chamo de Tríplice Fronteira a resposta aos Reféns do Como.
A Tríplice Fronteira entre Tecnologia, Comunicação e Cultura é um lugar desafiador de se ocupar. Troquei a segurança de um único olhar pela inconstância de um farol, sempre em circunvoluções.
Direto desta tríplice fronteira busco trazer à luz os acontecimentos que tem essa capacidade única de morar nas três instâncias e nos ajudam a, no lugar de repetir o COMO, desvendar o PORQUÊ do que vemos.
Manifestamos nossos desmandos culturais a partir da comunicação e a tecnologia não é origem, mas desdobramento técnico desta amarras culturais e de nossa necessidade de utilizar isso para tornar comum nossos discursos, sejam eles de dominação, luta ou elevação.
Estou atento como a tecnologia emerge discursos opacos e dentro dela esconde agendas.
Estou atento sobre aos movimentos culturais que ora transpassam, ora são invadidos pela evolução técnica. Com especial atenção para os momentos em que conseguem hackeá-la sem deixar passar aqueles outros nos quais podem ser inoculados por seus vírus.
Estou atento em como a indústria da comunicação (amplo senso aqui) exerce domínio destes mesmos discursos, praticando hegemonia, diluindo justas lutas identitárias, produtizando estilos de vida a partir daquilo que convencionamos generalizar pelo nome de marca.
Mas é um tipo de atenção integrativa, tri-partida, triplicada, tríplice como a sua fronteira. Tamanha é a interrelação entre os três vértices que não faz sentido mirá-los sob a ótica de uma falsa individualidade.
É o território que mais se aproxima de um fazer acadêmico, ainda que siga livre de metodologias clássicas. É empírico, ainda que me afete etnograficamente falando. É livre-pensar ainda que comprometido com fatos e conclusões. É íntimo até que publicado e público.
E, por favor, questionável, refutável, combatível… e tudo isso desde que guardemos mínima civilidade.