Penso#12 – Aquele que teve muitos nomes

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No retorno do programa, depois de uma semana de hiato forçado, revisito uma camada mais sensorial, que vai buscar na estranha em relação entre cheiros e memória, o entendimento do passar do tempo, enquanto primeiro passo para grandes jornadas.

Minha dica é que ouça de fones de ouvidos, antes de começar o dia, ou em uma pausa bem-vinda na correria de seus afazeres. Afazeres que do meu lado, tão corridos igualmente, quase me tiram o prazer de lançar um programa semanal.

Pouco depois, assumiu-se perseguidor feroz. Morava no topo das árvores, chamando-se de muitos nomes, como pão de macaco, ou pão de ló, quando começa a amadurecer ainda nos pés altos. Mas também dióxido de carbono, fábrica de sabão, Vila Kenedy, valão. E quando trocava de nome tão rapidamente, é porque era a Avenida Brasil. E a faculdade e vida adulta. Um pêndulo indo e voltando por mais de 10 anos. 3 horas por dia. Tonto, enjoado.  Xerox na mochila rasgada. Cópia de mim mesmo nas calças rasgadas. 


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Transcrição do episódio

Ele pode se chamar inebriante, quando vem do café coado, naquele do coador de pano.

E quando inebriante, é passaporte direto para programas de TV do final dos anos 70 e início dos anos 80. Para a casa da avó TV Cultura. Seus pais trabalham muito, toma aqui esse chocolate e não conta para ninguém

Houve dias que se chamou apenas carinho que brota quando o vento bate no mato, e esbarra no lixo doméstico nas encostas das casas, que por sua vez abrem para um quintal infinito e natureza que insiste, como rio de árvores, a nascer por ali.

E quando é esse carinho, tem o poder de chave para abrir a lembrança dessa imensa área verde que só existia na Campo Grande da mesma época. Meio “The Hills are alive with the sound of music, sabe?”

E também bússola para mistérios de busca, e encontrar ossadas de todo tipo de animal doméstico, e túneis, e rios e um tanto de perigo que não nos atingia, porque inocentes. 

Teve dias de se vestir de acidez da Manga quando verde, e com isso era calendário: Setembro

Para rapidamente trocar de roupa, como mágico em Las Vegas, agora como o almiscarado da Manga quando podre, e mais, uma vez, era calendário: de um janeiro que se espalhava lento como gato gordo pelo chão.

E, como calendário, marcava nas agendas o encontro para batalhas históricas com frutas malcheirosas voando e acertando as costas de colegas desavisados. E, uma vez, a testa do meu pai. Que colocou todos os 20 garotos da rua para fora. E riu depois.

Se apresentou também como Quase-canela e morou nas primeras aberturas do Estojo de madeira que já vinha completo, da Faber Castell. Era, então, testemunha ocular, vascular e escolar de colegas que eu considerava amigos. Ou, ainda, da dificuldade em fazer amizades que limitada a todos como apenas conhecidos. E de algum Bulling. Mais sofrido do que impingido. 

Com potência de vida recomeçada, era também o caudaloso da Lama primordial que misturada com folhas e frutas podres moídas e fervidas no latão no fundo do quintal me consagrava um alquimista infantil. Era então Daime libertador e permitia enxeergar por entre as sombras das árvores, o valor do presente em que o que mais se tinha era o não precisar ter mais nada. Ou, em palavras mais simples: liberdade.

Também batia ritmado ao som da ancestralidade, vertido em combinações de Madeira, carpete, resina, cordas de aço quando começam a oxidar, a cortiça das palhetas, o mofo de partituras amarelas, as cortinas pesadas de teatro de subúrbio.

Neste mix, pautava as aulas de música aos 6, aos 13 e aos 18, momentos diferentes da mesma suspensão temporal. E de como estudar música clássica era uma conexão atemporal com um futuro incerto. Era então, suspensão temporal absoluta. Uma fermata, se preferir.

Pouco depois, assumiu-se perseguidor feroz. Morava no topo das árvores, chamando-se de muitos nomes, como pão de macaco, ou pão de ló, quando começa a amadurecer ainda nos pés altos. Mas também dióxido de carbono, fábrica de sabão, Vila Kenedy, valão. 

E quando trocava de nome tão rapidamente, é porque era a Avenida Brasil. E a faculdade e vida adulta. Um pêndulo indo e voltando por mais de 10 anos. 3 horas por dia. Tonto, enjoado. 

Xerox na mochila rasgada. Cópia de mim mesmo nas calças rasgadas. 

Quando trocava de nomes, assinava com o meu próprio sangue suor mas ainda não cerveja,  alguns contratos que não se rasgaram.

Até o dia que suspendeu-se, disfarçou-se e não mais apareceu. Era o sem ELE do carpete, dos esterelizantes e dos espelhos. E quando ausente se fez, deixou materializar o negócio que inventei de trabalhar com em ambientes transparentes e sem paredes, em possibilidades criativas, outras restritivas. Negócio que foi mudando e eu com ele ao ponto de não saber mais quem é quem.

Mas, fez-se novos quens, renovando as esperanças. E apresentou-se desafiador, pequeno, frágil Álcool 70. Funchicória. Hiopoglós. Óleo Johnson

E nesse momento se chamou paternidade.

E, acostumado que estava com sua multinomia, foi também Doce, shampoo de fada, roda do skate amassada no asfalto do condomínio. 

E na sequência suor de pequena nucas que beijo e mordo fazendo cosquinhas. E pulou para palmilhas onde moram bactérias, mochilas onde mora uma vida inteira, roupas que moram no chão. 

Tranquilidade que mora na saudade. E que especialistas chamam, mais uma vez, de Paternidade.

E, um dia, impôs seu vaticínio derradeiro. E se fez lírio. Lágrimas. Lâmpadas. Boca fechada com silicone. Não mãos, Não Pés. Não ânimo, ânima, Alma.  Velório sem velas. Alunas que cantam Ave maria, canto do bairro que nunca havia entrado, escombros. Gavetas. Cimento. Um número que se joga no bicho. E depois pó.

E nesse dia, me olhou no fundo das narinas e contou a sua história.

Inebriante porque era sua primeira vez com isso de lembrar do mundo

Carinho do vento na natureza como causa-efeito de um estado de graça que nunca mais voltaria 

Fruta podre voadora e Lama anscretral, para mostrar a liberdade

Fui movimento pendular, porque a vida tinha que seguir,  

Paterno, porque a vida tem que seguir

Eterno, porque a vida tem que seguir.

A vida, tem que seguir todos os cheiros, aromas, fragrâncias, incensos. 

Penso que minha relação com os cheiros que me cercam é a do peregrino que trilha caminhos tão longos que são possíveis apenas passo a passo. 

Eles são para mim, o caminho para alguma coisa coisa. Pensando bem, são o caminho. 

Alguma coisa são os outros. 

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Roteiro, edição e mixagem: Mauro Amaral

Penso#12 – Gravado em 5 de Outubro de 2012

Sobre o autor

Mauro Amaral

Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos.

Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento para aplicá-las no dia a dia dos meus clientes.

Construo, mantenho e estimulo equipes criativas há 10 anos; com especial predileção por identificar novos talentos e trabalhar potenciais multidisciplinares.

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