Penso#7 – Fatias de vida

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Percebo com o passar dos anos que a rotina é como um sashimi de mil sabores, quase transparente, que tenta se passar pelo peixe inteiro. 

Daí, quem se concentra em olhar continuamente para essas fatias contra a luz, perde o foco. Repara nas ranhuras, repara na coloração, aproxima do nariz, sente o aroma do mar. Enfim, acha que está avaliando o que de perto e em verdade vos digo, é só distração.

Mas a vida, é um peixe inteiro e ele nada debaixo dos seus pés, como naqueles chãos de vidro de recepção de casa de revista de arquitetura. 

No Penso#7 resolvo levar a provável audiência do estado inicial a que todos nós estamos presos – olhar para as fatias finas da vida e considerá-las a totalidade – até um olhar maior, usando para isso, o exemplo recente de uma interessante série de TV.

O que emerge a partir daí? Conto para vocês depois do PLAY.

Olho para o gravador novamente. Penso que captei uma fatia transparente demais, de um futuro que chove cinza na maior cidade do país. E que talvez eu coma o último sashimi do planeta nos próximos 15 anos.

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Transcrição do episódio 

Rotina. A fatia mais fina da vida. 

Percebo com o passar dos anos que a rotina é como um sashimi de mil sabores, quase transparente, que tenta se passar pelo peixe inteiro. 

Daí, quem se concentra em olhar continuamente para essas fatias contra a luz, perde o foco. Repara nas ranhuras, repara na coloração, aproxima do nariz, sente o aroma do mar. Enfim, acha que está avaliando o que de perto e em verdade vos digo, é só distração.

Mas a vida, é um peixe inteiro e ele nada debaixo dos seus pés, como naqueles chãos de vidro de recepção de casa de revista de arquitetura. 

Mas, antes disso, 3 recados

  • O projeto mauroamaral.com tem como elemento central este podcast, mas não se resume a ele. Visite o site em mauroamaral.com e conheça um pouco mais, inclusive deixando um comentário sobre esse programa
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Voltando…

A vida não é um sashimi. É um peixe que nada no tempo.

Assim como olha para o tempo o glaciologista François Burgay  que consegue introduzir tubos de aço em geleiras eternas, tirar um enorme cilindro de gelo com centenas de milhares de anos e afirmar, com a aplicação do mais puro método científico, que nosso ar piorou e que, por volta de 2 mil anos atrás, rolou uma erupção na Itália que espalhou cinzas pelo mundo inteiro. 

Coloco o link no post deste episódio, para você não achar que a vida é melhor do que a ficção.

Como parece ficção científica o trabalho do cientista  Gunther Von Hagens que criou um método chamado Plastinação nos anos 70. Através de sua técnica e, uma vez com o seu corpo doado para a ciência – e para o programa dele – ele injeta tubos com enzimas no corpo, desidrata-o, transforma em uma substância rígida e multicolorida.

Que depois é fatiada ou seccionada para exibições pelo mundo, incluindo aí o mundo retrógrado e sem desculpas que se tornou o Brasil de 2019. Também linko o site da técnica, que parece transformar o corpo humano em um infográfico.

Fatias finas de passados eternos, nos ajudando a estudar o presente da espécie humana. Fatias finas do pesente estado final de espécimes humanos nos ajudando a estudar o que a rotina faz com o nosso interior.

Rotina. A fatia mais fina do sashimi sem gosto que é a vida. 

Lembro que esses dois exemplos nos mostram que o olhar é tudo o que precisa mudar. De perto, além de ninguém ser normal, todos somos sashimis semitransparentes. 

De longe, com o passar dos anos, eras geológicas e regimes políticos… bem… continuamos sem razão alguma entre o início o fim e o meio, porque só o caos reina nessa pedra sideral. 

Mas, ainda assim, a gente consegue entender um pouco melhor que algumas coisas. E prever outras. E errar em outras tantas.

Pois, recordo, que eram esses os pensamentos que como um flash me invadiram, quando resolvi de forma quase criminosa, gravar a minha rotina. Um dia típico no qual equilibrei entre os afazeres do home-office e compromissos pessoais que fazem do carro, a fatia móvel da vida em família. 

Voice Over: Essa é Sofia, minha filha caçula, sobre a qual falei ter feito “pluft” e ganho 1,75 de uma hora para outra, no Penso#5, especial do Dia dos Pais.

[conversa existencial com a Sofia]

Sim, cabe a nós, sem qualquer pista do que pode dar certo na vida, opinar sobre a vida deles. É um desafio e tanto. Até porque as coisas são sempre ao mesmo tempo e a reflexão, como naquele gramado idílico no qual estava sentado o pai perfeito do Penso#5, nunca existiu de fato.

[ligação do Micael]

Voice over: entra em cena Micael, o filho do meio e mais velho.

Entre a mãe. O Carro está cheio. A família circula pelas ruas do Rio de Janeiro, temendo motoqueiros em dupla, vidros fechados, como se um carro não blindado fosse proteção para o futuro sempre batendo à porta.

E chegamos à porta de casa. 

Desligo o gravador quando o notam, peço desculpas. Sigo em frente.

E, de repente, faz sentido o que a série Years and Years (BBC e HBO 2019) quis nos mostrar.

Em um futuro ali na esquina, a série de seis episódios como os ingleses gostam de fazer, aliás, nos apresenta a vida da família Lyons do dia de HOJE até 15 anos no futuro.

[A transcrição do áudio está no post deste programa em mauroamara.com]

Ou seja, é como afastar aquela fatia de sashimi apenas alguns centímetros dos olhos.

No mundo imaginado por Russel Davies – que tem 30 ou mais episódios de Dr. Who no portfólio e é um dos criadores britânicos mais incensados na atualidade – ,  podemos acompanhar como o peixe inteiro – que aqui vamos chamar de realidade – tem a capacidade de ser o real fatiador do sashimi semitransparente da rotina – que a partir de agora será entendia como a vida cotidiana.

A série não é o Black Mirror que você queria, mas é o Black Mirror que a gente precisa.

Tá tudo lá, para dizer que já está tudo isso aqui também, do lado de cá do PLAY: deep fake, fake news, imigração, crise absoluta com desmonte do sistema neo-liberal, BREXIT (e outros EXITs ainda piores). Glocalização do mundo, líderes superficiais, polêmicos e falastrões.

E do lado da tríade malígna entre tecnociência, economia e política: o transumanismo, precariado e demais quetais.

Ou seja, é a ficção sacudindo a gente pelo ombro e falando: “Migo, me ajuda a te ajudar porque não tô conseguindo acompanhar vocês.”

A fatia de entretenimento, sacudindo a fatia da vida real pelo ombro e mostrando que o peixe está inteiro por enquanto. Mas só por enquanto.

Lembro de alguns comentários que classificaram a série como promessa não cumprida. Que te deixa sem ar no início mas vai entregando soluções fáceis demais e termina com um “nhé”, meio sem sal.

Noto que esse é um dos comportamentos evidentes em vários dos personagens. E que muitos de nós assistimos aos capítulos depois de 14 horas de expediente do seu turno pseudo-trabalho-dos-sonhos que é na verdade um precariado, urdido e mal pago pelo mesmo sistema que você jura estar combatendo de dentro, com a sua militância de sofá.

Olho para o gravador novamente. Penso que captei uma fatia transparente demais, de um futuro que chove cinza na maior cidade do país. E que talvez eu coma o último sashimi do planeta nos próximos 15 anos.

Mauroamaral.com é um projeto que visa refundar a conexão direta entre audiências e produtores de conteúdo, tão abalada pelo mundo das timelines regidas por algorítimos.

Ele começa e termina no podcast de mesmo nome que você encontra no agregador de podcasts de sua preferência, sempre procurando por mauroamaral.com. 

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Penso#7 gravado em 22 de agosto de 2019.

Sobre o autor

Mauro Amaral

Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos.

Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento para aplicá-las no dia a dia dos meus clientes.

Construo, mantenho e estimulo equipes criativas há 10 anos; com especial predileção por identificar novos talentos e trabalhar potenciais multidisciplinares.

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