Penso#5 – Sobre o pai perfeito e o pai real

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Decido lançar o Penso#5, a mais recente edição do projeto mauroamaral.com, essa forma de conexão baseada em afeto e contato direto entre a minha consciência e os ouvidos da sua… em um domingo. Antes que a minha provável audiência levante da cama.

Decido dividir com as quatro centenas de pessoas que estão ouvindo o projeto todas as semanas uma cena idílica de um passado quase distante. Nela, tenho 25 anos. E sou o pai perfeito.

Viajo por timelines de Facebook dos meus filhos. Chego ao dia de hoje.

Além da experiência auditiva

Transcrição do episódio

Decido lançar o Penso#5, a mais recente edição do projeto mauroamaral.com, essa forma de conexão baseada em afeto e contato direto entre a minha consciência e os ouvidos da sua… em um domingo.

Antes que a minha provável audiência levante da cama.

Decido dividir com as quatro centenas de pessoas que estão ouvindo o projeto todas as semanas uma cena idílica de um passado quase distante. Nela, tenho 25 anos. E sou o pai perfeito.

Chego caminhando com calma até o topo de uma suave colina, com um gramado muito bem aparado, cercado de altos eucaliptos que nunca amarelecem.

Sinto mais uma vez a fragrância das árvores que, embora estranhas à flora brasileira, proliferavam ao meu redor.

Permito que a brisa de um final de tarde eterno me reencontre. É quase imperceptível o movimento do vento. Poderia ser quatro e vinte, cinco horas ou seis da tarde. Por que o tempo, como um filhote de mamute encontrado na Sibéria, está congelado em seu melhor momento.

Aos poucos filhos e mais filhos chegam, sorrindo tão leves quanto o vento que nos envolve. São suficientes para parecerem muitos. Mas, ainda assim e por força de um carinho transcendental, individualizados.

O vento nos envolve como um abraço coletivo nos fazendo ouvi-lo, a sabedoria da natureza ancestral. Com olhos semicerrados respeitamos o quase-silêncio dos sons do verde, das árvores. É um ohummmm ancestral.

Nos percebemos atentos uns aos outros, cúmplices. Sorrimos com os olhos. Compartilhamos memórias com o pulsar de cada coração. Em silêncio. Seguimos por alguns instantes neste silêncio criativo que parece antecipar uma grande sinfonia.

Estivéssemos em um teatro europeu no século XIX seria esse o momento em que a orquestra estaria afinando os seus instrumentos. Todos ao mesmo tempo, como nossos pensamentos e ansiedade neste momento.

Eu abro a boca sem esforço. Seus olhos brilham e sabedoria torrencial brota de minha fala. Todos nos compreendemos e, subitamente, o tempo para.

E, então…

…chego caminhando com calma até o topo de uma suave colina, mais uma vez, lá está novamente o gramado muito bem aparado. Lá estão os altos eucaliptos que nunca amarelecem.

E tudo recomeça.

//

Aos 25 anos eu era o pai perfeito por que ainda não tinha filhos. Mas sonhava com eles, nesta cena que se repetia a cada vez que via uma nova família se formando ao meu redor.

Mas a vida, bem, é uma coleção de incongruências que se acham super pertinentes. E tem a sua ousadia própria. É como um gato filhote que derruba peças de xadrez, pensando que sabe jogar.

Nós, somos os peões.

//

Muitos anos depois, entre os anos de 2016 e 2018, vivo uma intensa onda de mudanças positivas e acumulo algumas vitórias profissionais, pessoais e financeiras.

Naquele momento, lembro de retribuir aos filhos que realmente vieram, com viagens sincronizadas com os seus aniversários. Às vezes, mais de uma. E, na manhã de cada café de hotel, preparando para o passeio do dia, eles recebiam mensagens em seus feeds de Facebook.

Primeiro, o mais velho.

Ele olhava por trás das pernas da avó, com apenas quatro anos, em um aniversário de família. Eu, também sendo apresentado no dia, por trás das costas de sua mãe. Ambos desconfiados, querendo sorrir e viver aquela nova experiência.

Assim como essa foram diversas as primeiras vezes que vivemos juntos, fundando uma nova família, recebendo os irmãos, enfrentando bons e maus momentos.

Mas, de todas elas apenas uma só já seria mais do que suficiente para comemorarmos juntos todos os aniversários a partir de então.

E essa não seria a primeira vez no cinema, vendo Mulan.

Nem seria aquela vez que voltou todo empelotado de um final de semana no sítio dos tios.

Nem tão pouco a vez que viajamos juntos e passamos o carnaval jogando Magic, pois a mãe ficou doente.

Também não foram todos os inícios de aula, de faculdades e a estrada profissional que se descortina a frente.

O dia dos dias, como as melhores coisas da vida, aconteceu de forma despretensiosa, enquanto tentávamos terminar uma fase do Banjo e Casoy, em algum lugar no final nos anos 90.

Pouca gente percebeu é só nos dois vivemos. E seguimos nos prometendo desde então, uma resposta eterna a uma pergunta que mora no meu coração até hoje:

“Você quer ser meu pai?”

Quero, meu filho. Sempre serei. Para o que der e vier.

Feliz Aniversário. Feliz 25. A vida é toda sua. Tome posse.

Te amo

Depois, ao completar 18 anos, foi a vez do filho do meio que tamém é priomogênito ao seu próprio estilo:

Leio o jornal tentando, sem sucesso, não parecer um cirurgião desatento que, envolto em aventais e máscaras, se atualiza do noticiário. Na verdade, mal consigo juntar as letras das manchetes, pois meus olhos estão de vez em sempre direcionados para a porta do centro cirúrgico. Passa pouco das 13h e o ouço: “Você pode entrar agora”.

E você está lá. Na hora sinto uma conexão estranha se fechar em minha nuca como um link que nunca mais iria cair, como de fato não caiu. Acompanho a enfermeira, sempre observando.

Vamos ao berçário onde você é acomodado e todos os funcionários se certificam de que acompanhei o processo. Encosto a cabeça no vidro, respiro fundo. E fecho os olhos.

Abro. É hoje. Você está completando 18 anos. E no tempo-espaço curto que foi esta piscada, ano a ano, fui o espectador de algo que poucos desconfiam ser a razão da gente estar aqui.

Com dois anos, você interrompe o seu “Parabéns“, olha para todos e pergunta: “A gente pode cantar tudo de novo? Foi tão legal…”. Todos riem.

Aos 3, nos chama do quarto e mostra TODO O CORPO besuntado de hipoglós. “Olha como eu fiquei.” Eu rio.

Aos 4, ouço de seu avô paterno, cinéfilo como sempre: “Ele é como Macaulay Culkin no Esqueceram de Mim. Você vai precisar dar atividades para ele, sempre.” Eu aceno, concordando. E dou atividades.

Aos 6, 7 e 8, perambulamos por escolas até você encontrar uma que te preencha e use a sua energia de forma produtiva. E vem o judô, o teatro, o futebol, o vôlei. E o skate. E o “Pai, vem me buscar na festa, pois caí do alto de um playground e só sobrevivi porque fiz judô.”

Pisco mais uma vez e passam-se os 9, 10, 11, 12, 13, 14, e começam as resenhas, e começa a pegação, e começa a crescer e a fazer barba, 15, 16, e o ensino médio, e uma vontade de ser médico – e vai conseguir – , e uma predileção por mistérios iniciáticos (de onde será que vem, né?), 17…

E estou aqui. Você dorme, pois chegou de madrugada. Repito o gesto e, todas as manhãs, encosto a cabeça em sua porta e faço uma prece silenciosa. A cada manhã após uma saída, você renasce. A cada vez que abro a porta e vejo você dormindo, uma piscada de alívio é o espasmo que meu corpo consegue ter de resposta.

E eu, espectador. Não do sucesso, que é vão. Não do dinheiro, que nem mais existe. Não do progresso, que é relativo.

Sou, meu filho, um espectador de sua busca pela felicidade, o segundo maior presente que, como pai e gerador, poderia te ajudar a desembrulhar.

Spoiler: é um presente que vem embrulhado com poucos laços, mas muito nós. Desataremos todos eles juntos.

Te amo. Feliz 18, no dia 18 de 2018.

E, no planejamento para um ano que seria de mais e mais viagens, a caçula:

Sonhei que tinha uma filha de 14 anos. Assim, do nada. Como se o tempo voasse e a criança que corria pela casa atrás de bulldogs ingleses, tivesse dado um espirro e… ploft… ganha-se 1,75m instantaneamente.

E, como no mundo dos sonhos a gente sempre arruma um jeito de ter tudo o que quer, ela era bem parecida comigo. Gostava de coisas nerds e fazia maratona de Doctor Who. Mas não era só isso.

Tinha especial predileção por estudar e, dentre tantos objetivos, cultivava o maior: ser a Doutora Sofia com jaleco branco que toma café cedo e vai trabalhar enquanto os pais cuidam do jardim de sua casa.

Sabe aquela hora em que você sente que o sonho tá tão bom que você vai acordar logo depois?

Pois é. Daí, acordei hoje.

///

O que mais me separa, para além de 21 anos, de um momento transcendental e quase guru para outro, tão satisfeito com os pequenos gestos e experiências da vida mundana?

Aos 25 anos eu era um pai perfeito e estava no centro.

Aos 46, sou um pai real e sou o mais devotado expectador do sucesso de 3 outras pessoas.

Aos 25 eu era o: vem, senta aqui e ouve. O mundo é assim.

Aos 46 eu sou o: vai lá e fala. O mundo é de vocês agora.

Levanto da cama, sento na mesa do café da manhã e recebo 3 presentes.

//

Penso#5 Gravado em 9 de agosto de 2019.

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Sobre o autor

Mauro Amaral

Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos.

Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento para aplicá-las no dia a dia dos meus clientes.

Construo, mantenho e estimulo equipes criativas há 10 anos; com especial predileção por identificar novos talentos e trabalhar potenciais multidisciplinares.

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