Penso#20 – Hiperatividade ou reconexão?

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Penso que dá para afirmar com alguma margem de certeza que a Pandemia que hoje nos assola é a mesma que nos nivela e, também, nos revela: o ultimato de uma sociedade de controle que cobra, finalmente, o seu preço final.

Exaustão suprema, enquanto somos transformados em frangos de granja, presos em cubículos de nosso exato tamanho, de frente para uma luz que não apaga – as telas que nos cercam – , nos alimentando de grãos vitaminados de produtividade nociva.

Mas existirá alternativa? Acredito que seja através da reconexão. E é sobre ela que vou falar no Penso#20. E vocês também. Aguardo comentários.

Como foi feito esse episódio

O Penso#20, antes mesmo de ir ao ar, esteve em minhas redes sociais com um making of. No vídeo abaixo, eu explico como saio do roteiro e vou até o programa final, como faço as gravações, insiro leituras especiais etc.

Transcrição deste episódio

Começo o dia com as mãos doídas, bolsa quente de silicone no pulso para ver se suaviza. Foram tantas mudanças em uma que uma das articulações mais importantes dos meus 200 e poucos ossos resolveu dar um alarme oportuno. 

Posso ouvi-la enquanto giro a mão e ouço sucessivos “tlecs, tlecs, tlecs”

Ei, corra menos. Você realmente não acha que vai conseguir resolver o que o mundo inteiro não conseguiu né? 

No fundo acho, e isso está errado. Eu sei.

Mas, com aquele ímpeto de quem gosta de ecoar ao final do dia a frase “dever cumprido” no pensamento, sigo digitando, desta vez na rede social de Mark Zuckherber:

“Hoje bateu”.

Vejo amigos comentando no outro dia, vibrando na mesma sintonia, entrando em contato diretamente oferecendo ajuda. Faço isso enquanto ouço o Resumido, podcast que sempre indico, e que em de seus episódios mais recentes, enxerta uma fala do Emicida em sua lucidez óbvia e tão necessária:

Pois é, Emicida. Penso que dá para afirmar com alguma margem de certeza que a Pandemia que hoje nos assola é a mesma que nos nivela e, também, nos revela: o ultimato de uma sociedade de controle que cobra, finalmente, o seu preço final. 

Exaustão suprema, enquanto somos transformados em frangos de granja, presos em cubículos de nosso exato tamanho, de frente para uma luz que não apaga – as telas que nos cercam – , nos alimentando de grãos vitaminados de produtividade nociva.

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E tenha planilhas. E pague contas sem que tenha renda. E tenha renda sem que tenha mercado. E seja o mercado consumidor quando não há mais nada o que consumir, a não ser nós mesmos.

E se consuma.

Giro 90 graus para direita e olho para a estante. Em seus 20 cubículos, esses libertadores, guardo aqueles que são meu refúgio mais confortável. 

Em um desses compartimentos, me espera a modesta coleção de ficção científica que sempre nos socorre em momentos como esse. Traço a rota. Destino: o admirável mundo novo. E a forma como a sociedade antiutópica proposta por Aldous Huxley resolve essas e outras inquietações.

Consumimos as várias SOMAS do mundo atual e nos refastelamos em nosso auto-consumo. Um dos principais: a hiperprodutividade. Trabalhar mais e mais, enquanto inventamos metáforas arredondadas de aproveitamento do tempo, de entregas sucessivas, de medições e inteligência de dados. Se Deus não joga dados, que dirá pensar sobre eles, penso eu.

Respiro o último ar da geração e me entrego a pergunta óbvia – mas não tão lúcida como a de Emicida – haverá alternativa?

Há de haver. Haja o que hajar, como diria o meme.

E é a reconexão.

Ou melhor, a desconexão seguida de reconexão. 

Novas alianças não são assim tão novidade na sociedade ocidental. Imolamos bezerros e filhos primogênitos há gerações esperando que uma voz dos céus vaticine o seu cumprimento. Rasgamos pão, tomamos vinho, passamos azeite na testa… enfim, somos craques em novas alianças.

E a nova aliança desse mundo pós quarentena, a meu ver, tem o nome de Reconexão.

Por que não adianta olhar para trás, para um lugar para onde nunca mais voltaremos

Porque não adianta tentar manter funcionando no ritmo que tenta resolver algo além de nossa mão

Porque precisamos reconquistar – para ontem – a habilidade da conversa e do tempo atrelado ao espaço.

Sobre isso note: é a cidade a medida de nosso isolamento, não o país. E isso tem um motivo há muito esquecido: é a cidade a medida do ser humano. É onde sua vista alcança e sua mente concebe com alguma familiaridade. Revisitemos o conceito de cidade, nos apropriando dele. Será necessário.

Porque só vão sobrar as pessoas que sobrarem. Todo o resto deve passar. 

Porque, agora, quero também ouvir quem me ouve, nesse contato direto entre o fluxo da minha consciência e os ouvidos da minha provável audiência.

Por que podcast é, também sobre reconexão. Na verdade, é basicamente sobre isso. Todo o resto, vai passar como eu disse.

Portanto, para encerrar o Penso20, lanço um pedido de reconexão na forma de comentários. É só visitar o post deste programa em mauroamaral.com e me contar como anda por aí e como pensar em se reconectar com o mundo que vamos construir a partir do retorno.

Digito a setecentézima sexagézima nona palavra do roteiro, roteiro que há muito não escrevia, e ouço maritacas no telhado da casa para onde me mudei para passar a quarentena. Menor, isolada em silêncio.

Silêncio que eu quebro como um velhinho enfrentando a quarentena clicando no botão de gravar. Ouço maritacas no telhado do vizinho, peço para Alexa parar. E solto a voz para falar do dia que digitei “Hoje bateu” em uma rede social.

O projeto mauroamaral.com começa e termina nesse podcast todas as segundas-feiras, mas não se resume a ele. Você pode ouvir o programa em TODAS os agregadores de podcast sempre procurando por mauroamaral.com

O site, de mesmo nome, resume em seu manifesto o porque de eu estar pesquisando o podcast como um dos responsáveis por essa reconexão possível entre produtores de conteúdo e suas audiências.

Sobre o autor

Mauro Amaral

Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos.

Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento para aplicá-las no dia a dia dos meus clientes.

Construo, mantenho e estimulo equipes criativas há 10 anos; com especial predileção por identificar novos talentos e trabalhar potenciais multidisciplinares.

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Meu principal foco de atuação é a criação de projetos de conteúdo interessantes, divertidos e leves para marcas, organizações e produtos. Em função desta opção, transito bem entre jornalismo, publicidade e entretenimento, pesquisando continuamente e filtrando ativamente as tendências do momento...

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